segunda-feira, 21 de setembro de 2009

Capacete de crack


Sexta-feira por volta das três horas da madrugada, gritos e barulho de confusão tomaram conta do edifício Bernardo. O quase bairro Carvoeira,apesar de estar localizado aos arredores da favela da Serrinha, não pode ser considerada um local perigoso.

Fiquei sabendo que na mesma semana a locadora de vídeo Plus, havia sido assaltada, nada demais e nenhum perigo aparente, apenas um viciado em crack, conhecido da região,o magrelo que anda sempre ao lado o ``Ronaldinho``,outro figura do bairro,moradores das entranhas do morro da Carvoeira,ninguém sabe ao certo one,mas eles fazem parte do cenário das ruas aqui a muito tempo.
O cachorro ao lado do restaurante Appetit foi um dos primeiros a fazer barulho, ele sempre fica pelas redondezas, esperando os professores ou estudantes lhe deixarem uma marmita, mas já era madrugada, e algo estava errado. Atravessariámos a rua em frente ao restaurante e estariamos no terreno do seu Wilson,dono da lavanderia,onde o cachorro dele também começa a latir seguido de gritos: Pega ladrão... pega ladrão!


Como uma boa vizinha fui olhar pela janela, e as cabeças surgindo na janela anunciavam que algo realmente acontecia.
Os gritos mudaram de posição(para a minha alegria,pois até então não consegui ver oque era, a casa o seu Wilson é o outro lado do prédio), e para minha surpresa, os meninos que gritavam eram conhecidos, e pediam aos gritos para que eu alguém abrisse a porta do condomínio pois o larão estava escondido na garagem.

No meio disso meu pai acorda,pega um taco de madeira na mão e de samba canção chega a garagem seguido de pessoas feito pipocas,elas surgiam do nada, onde finalmente a polícia chegou.Acho interessante relatar,que apesar de dezoito ou mais linhas telefonicas da nossa polícia,só conseguiamos sinal de ocupado(se alguém estivesse morrendo;morria).
Bom, o bafão todo, era por conta do larãozinho já conhecido no bairro, um magrelo, estava no morro, observou os meninos com suas motos dando brecha,roubou os capacetes,e na mesma hora, conseguiu alguém por ali em cima mesmo pra trocar por pedras e crack.


A polícia ao chegar o intimou perguntando do capacete, o magrelo debaixo de um carro na garagem saiu chorando e disse que não sabia de nada; tomou dois choques com aquelas maquininhas barulhentas, e lembrou que tinha vendido o capecete.
Nessas horas já haviam duas viaturas,e para não perderem a pernada, resolveram subir o morro com o magrelo em busca do capacete, e não os vimos mais.









http://www.clicrbs.com.br/especial/sc/cracknempensar/home,0,3710,Home.html

http://toxicosblog.110mb.com/html/helmet1.html

segunda-feira, 14 de setembro de 2009

Colorir e inserir caos



Henrique aka Pulga,aka Sorte, nasceu e cresceu na Carvoeira, estudou assim como eu, no Colégio de Aplicação, e hoje com apenas 18 anos, é artista de rua conhecido por toda ilha, e continente,seja por seus grafites ,stencils, colagens e etc.
O skate fez parte do cenário deste bairro desde dos primórdios de sua prática aqui em Florianópolis, passagem para os bairros que cercam  UFSC, os diversos pontos de ônibus, obstáculos naturais e a movimentação basicamente de estudantes ao redor, foi assim que o artista deu ínicio ao seu aprendizado.
Foi assim que eu o conheci, o menor da galera da antes conhecida Rua Pintada, e com a marca registrada de sempre estar com um grande sorriso no rosto, Henrique era um dos meninos da  Carvoeira.
Em um multirão para pintar a rua onde andávamos de skate, ele teve contato com diversos artista que eram da vizinhança e que formavam uma cultura de rua, urbana, andavam de skate, dividiam uma coca-cola ,pães ,queijo e a madrugada garantia tintas, cores e música.
Pouco depois disso, novas cores, protestos, stencils começaram a espalhar sobre o quase bairro. A responsabilidade dessa intervenção urbana veio com o pequeno Henrique,já conhecido por Pulga então, e com a parceria de um grande artista e amigo pessoal Rodrigo Rizzo.




O grafite, diferente da pichação, é uma arte,uma intervenção urbana que quebra o cotidiano com imagens, cores e muito treino destes artistas, uma arte visual. São feitos na maior parte das vezes em locais com autorização. O grafite  utiliza técnicas bem mais complexas que a pichação, são desenhos mais elaborados e têm por objetivo interferir na estética urbana. 

 Ao cruzar com ele esta semana, lembrei com gosto que este é um fruto da Carvoeira, cresceu e espalhou raízes e cores por todo o país, e também na Argentina e Chile, e ao mesmo tempo, acho triste que não são todos que conhecem as diversas faces deste grande artista nascido e crescido aqui nesse quase bairro.

``Costumo misturar tudo,colorir e inserir meu caos,e o meu estilo cada vez mais desenvolve-se por meio de experimentações contínuas e trocas com os intermináveis artistas que estão pelas ruas,madrugadas ou no meio da musica,skate,fotografia. O mundo está acordando, ou assim o espero, por exemplo, a desmarginalização da arte urbana, arte de rua, grafite não é sujeira, é a expressão correndo riscos, seja este risco em tintas, stencils, teatros, musicas, precisamos de arte, e precisamos entender que todos somos diferentes e o respeito é fundamental para o crescimento e desenvolvimento``; Pulga.





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terça-feira, 1 de setembro de 2009

Tekila Maria

Tekila Maria, é moradora a pouco tempo da Carvoeira, mas desde que chegou, chama a atenção.
Esta vira-lata foi adotada no sul da ilha, no Campeche pelo meu vizinho Gabriel,morador há mais de 15 anos desta área também.



Mas até então a cachorrinha não chamava muito atenção, a não ser por seus latidos noturnos e  diários, no pacato edifício Bernardo, habitado por estudantes universitários e famílias.
Certa de duas semanas atrás, durante um café na janela, percebo uma movimentação na rua, e como todo bom vizinho, resolvi dar uma conferida.
Dois do moradores do apartamento em frente ao meu olhavam para cima, em direção a janela deles, de forma exaltada ouvi gritos e movimentos ansiosos, sem entender o que era, logo lembrei da cachorrinha, e entendi que o que eles gritavam era algo como : Não se mexa Tekila! Não se mexe!
A cachorra subiu em cima do sofá que por sua vez era encostado na janela, e aparentemente, não era muito aderente.



Tekila escorregou do terceiro andar, `` quicou`` ,ou bateu na marquise do edifício, e chegou ao chão apenas com o lábio cortado.
Isto eu posso afirmar que não vemos todos os dias pela Carvoeira.